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Esquerda, direita...

A demagogia que alimenta a indefinição entre esquerda e direita resulta na consolidação do argumento de que é tudo igual e não há alternativa.

Porém, as diferenças existem e são abissais.

A direita pretende a privatização de tudo. Por vezes aparenta querer manter algum controlo da actividade privada, mas não permite que as entidades reguladoras funcionem. A liberalização de serviços e bens essenciais acarreta a dependência dos consumidores aos caprichos e à gula dos exploradores supra-nacionais. A saúde pública, a escola, a segurança social, as energias, a água, os serviços postais, as comunicações, os transportes públicos (e mais virá, à semelhança do sistema norte-americano, com tribunais e cadeias privados), ficam nas mãos de empresas que apenas visam o lucro. A banca privada absorve todos os recursos financeiros. As bolsas e as off-shores promovem a jogatana e a voracidade do dinheiro fácil, afundando as economias. As seguradoras "substituem" o Serviço Nacional de Saúde e a Segurança Social. O ensino privado é subsidiado com verbas públicas e faz-se pagar caro às famílias. O resultado da privatização é a acumulação ilimitada de fortunas, que tem como contrapartida a degradação dos serviços e o empobrecimento extremo das populações, que continuam a sofrer o confisco crescente, a troco de nada.

A esquerda defende o Estado Social, que implica o Serviço Nacional de Saúde, a Segurança Social, a Escola Pública e a nacionalização dos serviços essenciais, assegurando a manutenção desses serviços e a sua distribuição equitativa. 

Onde reside essa esquerda?

Temos assistido em Portugal, e Europa fora, a uma deriva acelerada de partidos com designações de esquerda, para definições estratégicas de direita. 

Deixemos de parte o CDS/PP, que cedo deixou cair a máscara de "centro" para se revelar direita liberal populista cristã, e o PCP, com a máquina inflexível do Comité Central a assegurar que não se desvia um milímetro da vertente totalitarista.

A social democracia histórica na Europa, de origem operária e de esquerda, engloba actualmente no Partido Socialista Europeu/Parlamento Europeu a família socialista e social democrata como o SPD alemão e de noutros países nórdicos, o Labour britânico e os partidos socialistas do sul da Europa, incluindo o português.

O PSD português não faz parte dessa família. Pertence, tal como o CDS/PP, ao PP europeu. O antigo PPD, que se dizia socialista e social democrata apropriou-se abusivamente da designação  PSD, e o partido que representa a social democracia europeia em Portugal é o PS, se bem que actualmente quase não se distingam, desde que o Partido Socialista, outrora marxista, foi arrastado para a Terceira Via, um eufemismo para a absorção dos socialistas pelo capitalismo.

A propaganda unitarista que vende a ideia de que o Partido Socialista é de esquerda não passa de um conluio para garantir a colagem de alguns oportunistas à previsível ascensão da quadrilha que rodeou José Sócrates. Nesta pescadinha de rabo na boca PS/PSD/PP, a factura continua a sobrar para os mesmos de sempre.