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COLUNA DE OPINIÃO NO JORNAL O SETUBALENSE

Hoje vemos como foi acertada a nacionalização da banca em 1975. Afastar os banqueiros foi fundamental para impedir o boicote ao regime democrático. Permitiu o desenvolvimento económico e social do país. O Estado pode então investir na saúde e na educação porque não tinha de financiar os desmandos dos banqueiros, como hoje acontece. Os bancos portugueses devem ser libertados da incompetência e da gestão danosa dos banqueiros privados. Se os contribuintes já pagaram o resgate da banca privada, é hora de ser o Estado a dirigir os bancos de modo transparente. O Novo Banco não deve ser reprivatizado. Se o nosso dinheiro está a tapar o buraco aberto pelos privados, seria absurdo devolver o Novo Banco a banqueiros privados. O ex-BES deve ficar na esfera pública, com políticas de crédito de apoio à economia e ao emprego. O empréstimo do Estado ao Novo Banco, feito sem garantias, levanta as maiores dúvidas. Ninguém acredita que o banco seja vendido por aquele valor ou que os bancos privados algum dia paguem este financiamento estatal. Entretanto, já se perfilam os “fundos abutres”. Estes poderosos especuladores internacionais comprarão títulos de dívida do BES e de empresas do grupo Espírito Santo, hoje quase sem valor, para depois reclamarem em tribunal indemnizações chorudas do Estado português. No fim, a conta vai sobrar para os contribuintes. Em 2008, em vez de nacionalizar todo o grupo que incluía o BPN, o governo Sócrates optou por passar para o Estado apenas o banco, falido e endividado. O Governo PS salvou, com dinheiros do Estado, o banco dos amigos de Cavaco. A Sociedade Lusa de Negócios mudou o nome para Galilei e continuou a deter empresas lucrativas, incluindo quotas de petróleo angolano. Os antigos donos do BPN, até hoje acionistas da Galilei, recebem dividendos todos os anos, enquanto os contribuintes pagam pelo buraco que os seus gestores deixaram no banco, mais de 4 mil milhões. Anos mais tarde, Passos Coelho acabou por vender o BPN ao capital angolano do BIC por 40 milhões, depois de injetar mais 600 milhões do Estado, que ficou com os créditos de maior risco. É necessário fazer hoje o contrário do que fez o governo socialista no BPN. Os depósitos e os empréstimos saudáveis do BES devem ser nacionalizados. O lado tóxico do grupo, esse sim, deve ser deixado à responsabilidade dos seus antigos donos e dos grandes fundos a quem ficaram devedores.